ISSN 2764-8494

ACESSE

Artes
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Cinema nacional: Acervo Manfredo Caldas

Por Embaúba Play

Manfredo Caldas pertence à segunda leva de cineastas que se seguiu ao movimento do cinema paraibano surgido no início dos anos sessenta com o documentário “Aruanda”, de Linduarte Noronha, consagrado nacional e internacionalmente.

Em 1969, Manfredo foi radicar-se no Rio de Janeiro, onde inicialmente dedicou-se à montagem cinematográfica publicidade e restauração de filmes para a Cinemateca do Museu de Arte Moderna – Rio, juntamente com Cosme Alves Neto, chegando a trabalhar, entre outros, com realizadores da categoria de Alex Vianni, David Neves, Olney São Paulo e Vladimir Carvalho.

Enquanto isso pesquisava e preparava seus próprios projetos no terreno do documentário, sendo sua marca mais característica a preocupação com o resgate de traços da cultura nordestina transplantados para outros centros do país, no rastro da migração. Esse esforço resultou em filmes muito bem recebidos como foi o caso de “Feira”, de 1974, que focaliza uma feira dominical do bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, onde comparece número considerável de nordestinos, e o “Boi de Reis”, de 1977, – versão do Bumba-Meu-Boi que descobriu no Estado do Rio. Em 1979/83, realiza “Cinema Paraibano – Vinte Anos”, numa tentativa de discutir o ciclo de cinema na Paraíba e situa-lo no panorama da cinematografia brasileira, Ainda no Rio de Janeiro, realiza uma série de documentários para organizações não governamentais, Ministério da Educação e CPCE/UNB e TV Manchete.

Durante a realização de Cinema Paraibano – Vinte Anos, permanece em João Pessoa, Paraíba, entre 1981 e 1984, quando participa da criação e instalação do NUDOC – Núcleo de Documentação Cinematográfica da Universidade Federal da Paraíba, instituição responsável pela retomada da produção do cinema paraibano, possibilitando assim o surgimento de toda uma nova geração de cineastas paraibanos no final da década de 80.

De volta à Paraíba em 1987, realiza “Nau Catarineta” na cidade portuária de Cabedelo, registro único de uma manifestação de cultura popular levada a cabo por pescadores e pessoas ligadas a atividades do mar, sendo considerada também a versão popular dos Luzíadas.

Em 1988 conclui o documentário de longa-metragem Uma Questão de Terra”, o qual foi consagrado no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro de 1988 e que conquistou a Margarida de Prata da CNBB. Neste filme, Manfredo apresenta de maneira contundente o problema fundiário no país – mais especialmente no Nordeste – onde não faltam as cores mais fortes de exasperante violência tingindo de tragédia a história da região.

Em 1990 e 1992, segue para Cuba, onde a convite da Escuela Internacional de Cine y Television, passa a ministrar aulas de montagem e edição, tendo assumido a chefia de cátedra dessas disciplinas.

Em Brasília desde 1995, assume a Direção do Pólo de Cinema e Vídeo até o início de 1997, criando então a empresa FolKino Produções Audiovisuais e realizando o documentário “Negros de Cedro”em 1988, detentor de significado números de prêmios e distinções. Neste documentário de curta metragem, registra a lenta agonia de uma comunidade negra isolada nos confins do Estado de Goiás, cuja marca na sua relação com os outros habitantes da região é uma altiva consciência de sua negritude que se exprime através dos usos e costumes que procuram conservar. Entre 1999 e 2000, juntamente com Vladimir Carvalho, produz o documentário de longa-metragem Barra 68 – Sem Perder a Ternura, tendo também assumido a montagem e edição de som. Em 2006 lançou seu último longa metragem “Romance do Vaqueiro Voador”, documentário baseado no poema homônimo de João Bosco Bezerra Bonfim que trata da recriação do universo mítico do nordestino ao vivenciar a nova diáspora, no papel de candango, protagonizando o lado trágico da epopéia da construção da nova capital do Brasil com o ator Luiz Carlos Vasconcelos no papel do vaqueiro. O filme ganhou o Troféu Signis de Melhor Documentário no Festival Internacional de Cinema de Toulouse na França.
Desde então trabalhou em consultoria artística, montagens e análise de projetos. Faleceu em casa, em 21 de novembro de 2016.

Matéria publicada originalmente em A Embaúba Play.

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