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Artes
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Psicopatologia e Literatura | Ep.9: As cartas de Hermann Melville: rastros do seu processo criativo

A série de Podcast Psicopatologia e literatura idealizada e produzida por Adriana Costa agora na revista Pluriverso. Você pode acompanhar aqui, no seu app de podcast preferido ou no blog da Dri. Porque aqui é assim, partilhado, diverso e colaborativo.

Por Adriana Costa

Ouça ou leia, ou leia e ouça…

A interatividade é uma das propriedades do processo criativo e o acervo documental gerado permite uma viagem no tempo nestas relações estabelecidas. Cada documento do processo contém uma potência realizada ou latente. Este material revisitado pode abrir uma nova relação, provocando novas associações criativas à partir do acervo conservado. 

 Cada obra produzida reflete um percurso de escolhas e de transformações sucessivas, que exigiu do artista ou grupo artístico, uma miríade  de pesquisas, planos e experimentações. No trabalho de criação da história de Moby Dick, Hermann Melville trocou cartas com seu vizinho, também escritor Nathaniel Hartworne, veja este belíssimo trecho: 

É maravilhoso o não porque é um centro vazio, mas sempre frutífero. Para um espírito que diz não com trovões e relâmpagos, o próprio diabo não pode força-lo a dizer sim. Porque todos os homens que dizem sim  mentem; quanto aos homens que dizem não, bem, encontram-se na feliz condição de ajuizados viajantes pela Europa. Cruzam as fronteiras da eternidade sem nada além de uma mala, isto é, o Ego. Enquanto, em compensação, toda essa gentalha que diz sim viaja com pilhas de bagagem e, malditos sejam, nunca passarão pelas portas da alfândega.

A história  do livro, foi baseada em um caso real de um navio chamado Essex, que no inverno de 1820 , foi atacado em alto mar, por uma baleia.

Neste período Melville tinha trinta e um anos e estava com sua família vivendo numa fazenda em Massachussets. O fracasso de vendas de Moby Dick em 1852, fez com que o seu editor recusasse o manuscrito, hoje perdido, The Isle of the Cross.

Herman Melville morreu em 28 de setembro de 1891, aos 72 anos, em Nova York, em total obscuridade.

Como diz  F.O: Matthiessen, no seu artigo: “Uma língua elevada, corajosa e altiva” O maior interesse de Melville era:

mergulhar na alma dos homens, mesmo que isso significasse trazer à tona a lama do fundo.

Em suas cartas encontramos as lembranças de suas viagens em alto -mar, no baleeiro Acushnet, a bordo do qual percorreu quase todo o Pacífico.

Eu tenho um sentimento do mar, aqui no campo… Meu quarto parece a cabine de um navio; e de noite quando acordo e ouço o vento assobiando na janela, minha fantasia me diz que há muitas velas na casa e que é melhor subir ao telhado e preparar a lareira.

Em mais ou menos uma semana, vou para Nova York, para enterrar-me numa sala de um terceiro piso qualquer e trabalhar em meu ‘Whale’ [Moby-Dick] e a ele escravizar-me, tudo isso ao mesmo tempo em que o livro começará a ser impresso, em série. 
É essa agora a única maneira pela qual conseguirei terminá-lo – tenho sido demasiadamente jogado para um lado e para outro pelas circunstâncias.  Aquela calma, aquela tranqüilidade, aquele silencioso espírito de grama que cresce sob o qual deveríamos sempre escrever – isso tudo, 
temo eu, raramente possuirei. 
Os dólares são minha desgraça; e o Diabo, maligno, está sempre a me sorrir, mantendo a porta entreaberta. Tenho um pressentimento, meu caro senhor – esgotar-me-ei e sucumbirei como um velho ralador de noz-moscada, ralado pelo atrito constante da casca, ou melhor, do alimento.
 O que me sinto mais inclinado a escrever é precisamente o que se bane – não dará lucro. 
Porém, escrever de outro modo, com certeza, não sei. 
Assim, o produto final me sai confuso, e todos os meus livros são uma barafunda só.

tradução de Vinícius Figueira

São muitos os admiradores de Hermann Melville, Harold Bloom caracteriza Moby Dick como um épico nacional norte-americano, “um livro que venero desde a infância”. O crítico alerta :

Somos arrebatados por Ahab, ao mesmo tempo em que lhe rechaçamos a monomania. Ahab é norte americano até os ossos, obstinado em seu desejo de vingança, mas sempre – estranhamente – livre, talvez, porque nenhum norte-americano assim se considere, de fato, a não ser que se sinta inteiramente só.

Dica de filme :

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