ISSN 2764-8494

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CyberCultura, T.I. e colabs
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O que é cibercultura, para Pierre Lévy

Filósofo francês que explica a digitalização do mundo

Por Olívia Baldissera

“As possibilidades tecnológicas são como um espelho que nos faz nos refletirmos nele, e ver o melhor que há em nós… E também o pior.”

Pierry Lévi, em entrevista para El País em 2021

Visionário é um adjetivo bastante usado para descrever Pierre Lévy, filósofo francês que há mais de 30 anos discute os impactos da internet e da hiperdigitalização da sociedade. Se olharmos para o que ele escreveu nas décadas de 1980 e 1990, conseguimos entender o porquê.

Antes dos microcomputadores entrarem na casa das pessoas, Pierre Lévy já antevia que a internet seria a principal forma de comunicação da humanidade. Ele também escreveu sobre algo que provavelmente trouxe você para este texto: a possibilidade de pesquisar sobre os mais variados temas em um único lugar, o que aumentaria nossa capacidade de memória. Esta seria externalizada nos meios digitais (no caso, o Google), criando assim uma espécie de memória infinita.

Para entender como ele conseguiu prever tantas coisas, é preciso conhecer as principais ideias desse pensador, que é também um dos professores referência da Pós PUCPR Digital. Aqui você encontrará um resumo de cinco conceitos do filósofo, especialmente o que é cibercultura para Pierre Lévy.

Quem é Pierre Lévy, filósofo francês e empreendedor

Pierre Lévy nasceu em 2 de julho de 1956, na Tunísia, quando o país ainda era colônia da França. Ele estudou na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde fez um mestrado em História da Ciência e um doutorado em Sociologia. Teve contato com as ideias de Michel Serres e Cornelius Castoriadis, que inspiraram um estudo sobre a invenção do computador.

Em 1987, começa a lecionar no Departamento de Comunicação da Universidade do Quebec, em Montreal. No mesmo ano lança seu primeiro livro, “A Máquina Universo: criação, cognição e cultura informática”.

As ideias de Pierre Lévy se tornaram conhecidas mundialmente em meados da década de 1990, com a tese “As Árvores do Conhecimento”. Em 1993, ele torna professor do Departamento de Hipermídia da Universidade de Paris, em Saint-Denis, onde trabalha até 1998. É nesta época que o filósofo francês começa a desenvolver o conceito de uma linguagem capaz de aprimorar a inteligência coletiva humana no mundo digital, o que viria a ser o Information Economy MetaLanguage (IEML).

Lévy é considerado o inventor do IEML, sigla que pode ser traduzida para “metalinguagem da economia da informação”. Esse sistema teve o apoio do Canada Research Chairs Program e do Social Sciences and Humanities Research Council of Canada (SSHRC). Em 2020, ao lado de Louis van Beurden, Pierre Lévy fundou a INTLEKT Metadata Inc.

A empresa oferece uma plataforma colaborativa que permite a criação, manutenção e compartilhamento de sistemas abertos de metadados, com base no IEML, contribuindo assim para os avanços na tecnologia de machine learning. Ela foi aceita no Distrito 3, uma das maiores incubadoras de startups de Montreal. Você pode conferir o protótipo da INTLEKT neste link.

Atualmente é CEO da INTLEKT Metadata Inc. e professor-emérito da Universidade de Ottawa, professor-associado na de Montreal e membro da Academia de Ciências do Canadá. Pierre Lévy também é professor dos cursos Direito 4.0: Direito Digital, Proteção de Dados e Cibersegurança e Jurimetria, Legal Hacking e Inteligência Artificial da Pós PUCPR Digital.

Os livros de Pierre Lévy

Em mais de 30 anos como pesquisador, Pierre Lévy escreveu 13 livros, todos traduzidos para o português:

  1. “A máquina universo: criação, cognição e cultura informática” (1987);
  2. “As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática” (1990);
  3. “A ideografia dinâmica: para uma imaginação artificial?” (1992);
  4. “As árvores de conhecimentos” (1992);
  5. “A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço” (1994);
  6. “O que é o virtual?” (1995);
  7. “Cibercultura” (1997);
  8. “Filosofia world: o mercado, o ciberespaço, a consciência” (2000);
  9. “A Conexão Planetária: o mercado, o ciberespaço, a consciência” (2000);
  10. “Ciberdemocracia” (2002);
  11. “O Fogo Liberador” (2006);
  12. “O Futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia planetária” (2010);
  13. “A Esfera Semântica: computação, cognição, economia da informação” (2011).

O que é cibercultura para Pierre Lévy

Para Pierre Lévy, a cibercultura é um conjunto de técnicas materiais e intelectuais, práticas, atitudes, modos de pensamento e valores que se desenvolvem com o crescimento do ciberespaço. Ela é um fluxo ininterrupto de ideias, ações e representações entre pessoas conectadas por computadores. Podemos incluir aí smartphones, tablets e demais dispositivos conectados à internet.

A cibercultura não exclui as ações do mundo físico nem pode ser separada da cultura. Ela engloba fenômenos que acontecem fora do mundo digital, mas que de alguma forma são impactados pelas novas tecnologias, como produções artísticas e intelectuais e a relação entre as pessoas.

A cibercultura também pode ser considerada a expressão de uma nova forma cultural universal, diferenciando-se de outras por não ser determinada por um sentido global ou totalizante. Ela é um sistema aberto e imprevisível, em que não há um modelo a ser seguido. A mudança é constante e acelerada.

Os processos da cibercultura acabam por inundar o mundo com informações a todo instante, por meio das novas tecnologias, fenômeno que Pierre Lévy chama de “segundo dilúvio”. Para o filósofo francês, precisamos nos adaptar a essa nova condição e aprende a navegar entre tantas informações.

É preciso lembrar que outros pensadores além de Pierre Lévy desenvolveram conceitos sobre cibercultura. Entre os pesquisadores do tema, Lévy aborda o conceito a partir da influência das novas mídias na sociedade e como elas criam subculturas.

Outros conceitos importantes de Pierre Lévy

Para compreender melhor o que é cibercultura, é preciso conhecer outros conceitos desenvolvidos por Pierre Lévy. A seguir você verá um resumo de quatro deles, adaptados do livro “Cibercultura”. A obra é fruto de um relatório encomendado pelo conselho da Europa para entender as implicações culturais do desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs).

A inteligência coletiva

A inteligência coletiva é um dos principais motores da cibercultura para Pierre Lévy. O filósofo a define como uma inteligência múltipla, distribuída por todo lugar e valorizada incessantemente. Ela tem como objetivo mobilizar as competências dos seres humanos. Sua condição de existência é a virtualização e desterritorialização das comunidades no ciberespaço.

O que é ciberespaço

Pierre Lévy define ciberespaço como um meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Também chamado de rede, o conceito abrange tanto o aspecto material da comunicação digital, quanto o seu conteúdo e os seres humanos que o produzem e interagem nesse ambiente.

A ciberdemocracia

Pierre Lévy explica que o destino da democracia está ligado ao ciberespaço, que se expande e oferece novas formas de ação política. Nesse sentido, entende-se a ciberdemocracia como uma forma do cidadão participar da coisa pública, por meio das TICs. Ela cria processos e mecanismos de discussão entre o indivíduo e o Estado para se chegar a uma política de decisões.

O que é virtual

Para Pierre Lévy, é virtual tudo o que existe apenas em potência e não em ato. Ou seja, é algo desterritorializado, que consegue gerar manifestações concretas em momentos e lugares diferentes sem estar preso a um deles.

Olivia Baldissera é Jornalista e historiadora apaixonada por pesquisa, planejamento e conteúdo.

Essa matéria foi publicada originalmente na Pós PUC PR Digital.


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