ISSN 2764-8494

ACESSE

Outras Economias
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Os Caminhos da Economia de Solidariedade (livro) 1 de 12

A partir desta edição, a revista Pluriverso publica, na sua Curadoria Outras Economias, de forma exclusiva, cada um dos 12 capítulos do livro Os caminhos da economia de solidariedade, de Luis Razeto Migliaro, traduzido ao português.
Em cada nova edição, publicaremos uma síntese(*) do capítulo no corpo da matéria, e disponibilizaremos o capítulo correspondente, na íntegra, para leitura e descarga, em formato pdf.

Apresentação

A economia solidária, segundo Daniela Pimentel, supervisora administrativa na Avesol, é, resumidamente, a organização do trabalho de forma coletiva e igualitária, com prioridade à vida das pessoas e ao meio ambiente, acima do lucro. E a cooperação, por sua vez, é um dos princípios da economia solidária, ao lado de autogestão, democracia, solidariedade, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário.

Hoje, já vivenciamos várias experiências ao redor do mundo que, através de suas práticas colaborativas, buscam uma forma alternativa à competitividade do mercado, aplacando a desigualdade social. Mas quais são as suas bases, seus princípios? Como colocá-las em prática?

O livro possui doze capítulos que abordam diversos temas e reflexões. Seu objetivo é apresentar a economia da solidariedade como um fenômeno que surge através da ação de pessoas engajadas em encontrar novas formas de fazer as coisas. Serão compartilhados motivos, preocupações e urgências relacionadas a esse tema, e serão explorados os caminhos abertos por ações pioneiras.

O convite ao leitor é para acompanhá-los em um lugar de observação especial, que será construído dentro de si mesmo. A partir desse novo ponto de vista, poderão enxergar a realidade de perto e de longe ao mesmo tempo, de forma ampla e compreensiva.

O autor se propõe a possibilitar uma nova visão do mundo e de si próprio, observando os caminhos desta particular concepção da economia como algo que vem de tempos antigos e se projeta em um possível futuro de uma nova civilização.

Embora as distâncias entre as experiências concretas e sua projeção histórica sejam enormes, o convite é para acompanhar passo a passo até esse lugar de observação especial. Pelo mesmo, é preciso estar ciente de que talvez não se veja as coisas da mesma forma e se envolva em aventuras inesperadas, explorando caminhos junto a outros companheiros de estrada.

Vamos a ele?

A ideia central é que a solidariedade não deve ser apenas um complemento ou correção aos defeitos da economia, mas sim uma parte intrínseca e transformadora da atividade econômica.

Luiz Razeto

Reprodução do quadro Trabalhadores, 1955 do pintor brasileiro Di Cavalcanti
Trabalhadores, 1955 – Di Cavalcanti

Capitulo I | O que é Economia de solidariedade (resumo)

Pode-se juntar a economia e a solidariedade?

Economia de solidariedade é um conceito novo que, embora tenha surgido poucos anos atrás, está já fazendo parte da cultura latino-americana. Quando comecei a usar esta expressão, e publiquei em 1984 o livro primeiro de Economia de solidariedade e mercado democrático, pude observar a reação de surpresa provocada ao associar os dois termos numa só expressão.

As palavras “economia” e “solidariedade”, embora comuns tanto na linguagem coloquial quanto na culta, faziam parte de “discursos” separados. Enquanto, “Economia” é inserida numa linguagem factual e num discurso científico, “solidariedade”, é inserida numa linguagem valórica e num discurso ético. Assim, dificilmente apareciam os dois termos num mesmo texto, menos ainda, num só julgamento ou razoamento. Logo, parecia muito estranho vê-los unidos num mesmo conceito.

Decerto, a economia tradicionalmente foca em questões como utilidade, carência, juros, propriedade, competição e ganho. Por sua vez, a solidariedade é associada a valores éticos como amor, fraternidade, ajuda mútua e participação em comunidades.

Entretanto, a relação entre esses dois conceitos nem sempre foi simples, com a busca por riqueza material muitas vezes sendo vista com desconfiança por aqueles que enfatizam a importância do amor e da solidariedade. Atividades econômicas têm sido frequentemente abordadas de forma externa, como denúncia de injustiças, pressão por correções ou ação social para paliar a pobreza e marginalização.

Incorporar solidariedade na economia

A economia de solidariedade propõe a introdução da solidariedade em todas as fases do ciclo econômico, de forma a incorporá-la na teoria e na prática da economia. Isso significa que a solidariedade não deve ser vista apenas como algo complementar ou corretivo à atividade econômica, mas sim como uma parte intrínseca e transformadora da mesma. Dessa forma, surgem diversas formas e modos de organização econômica, incluindo empresas solidárias, políticas econômicas solidárias e consumo solidário.

Embora exemplos de solidariedade já ocorram na economia, como negociações coletivas entre trabalhadores e sacrifícios feitos por alguns empresários para manter empregos, a economia de solidariedade propõe algo mais abrangente e estrutural. Trata-se de uma mudança de paradigma que visa incorporar a solidariedade em todas as esferas da atividade econômica, desde a produção até a acumulação de riqueza.

A economia de solidariedade não é um único modo definido de organização econômica, mas sim uma variedade de formas e modos que podem coexistir e se complementar. É importante destacar que a solidariedade não é apenas uma questão moral ou ética, mas sim uma estratégia econômica viável e eficaz para promover uma sociedade mais justa e equilibrada.

Reprodução do quadro Feira Nordestina, 1954, do pintor brasileiro Di Cavalcanti simboliza economia de solidariedade
Feira Nordestina, 1954 – Di Cavalcanti

As duas dimensões da economia de solidariedade

A economia de solidariedade possui duas dimensões distintas. Por um lado, ocorre quando a solidariedade cresce nas estruturas e organizações da economia global através da ação dos indivíduos. Por outro lado, também é identificada em atividades, empresas ou circuitos econômicos específicos onde ela está presente de forma intensiva, e atua como elemento articulador dos processos de produção, distribuição, consumo e acumulação.

Esses dois processos se alimentam reciprocamente, onde um setor de economia de solidariedade consequente pode difundir a solidariedade na economia global e vice-versa. Para expandir esse modo da economia, é importante compreender profundamente a sua conveniência, oportunidade e necessidade. Apesar das dificuldades enfrentadas pelos envolvidos em iniciativas deste tipo, conhecer suas motivações e caminhos pode estimular a apoiar e se juntar a eles.

Assim, a economia de solidariedade é vista como um espaço onde convergem diferentes caminhos e motivações, e os participantes trocam razões e experiências, com reciprocidade e enriquecimento mútuo. Portanto, conhecendo esses motivos e caminhos, é possível compreender mais ampla e profundamente essa forma de organização econômica e encontrar razões para participar dela.

O que sustentamos (…) é que a solidariedade se introduza na economia em si, que opere e atue nas diversas fases do ciclo econômico, ou seja, na produção, circulação, consumo e acumulação. Isto implica produzir com solidariedade, distribuir com solidariedade, consumir com solidariedade, acumular e desenvolver com solidariedade.

Luis Razeto

Capitulo I | O que é Economia de solidariedade (na íntegra)

Disponibilizamos aqui, de forma exclusiva e com a autorização do autor, a íntegra do primeiro capítulo do livro para descarga gratuita.


O livro completo Os caminhos da economia de solidariedade está disponível para compra a seguir. Você também pode fazer uma leitura prévia ou partilhar:


 Luis Razeto Migliaro é um intelectual chileno, Professor de Filosofia, Licenciado em Filosofia e Educação e Mestre em Sociologia. É um dos principais teóricos da economia solidária, cujo conceito foi cunhado por ele.

Apresentação Simone Machado, da redação da Revista Pluriverso.

(*) Na síntese dos capítulos desta série é utilizada Inteligência Artificial generativa. Recomendamos sempre ler o texto na íntegra, em especial para pesquisas mais aprofundadas e trabalhos acadêmicos.

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